Inflação e juros altos derrubam vendas do comércio
Nem as datas mais favoráveis deram fôlego ao setor, em meio ao desemprego elevado e renda desabando
Os resultados das vendas do varejo de novembro recém divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também foram muito negativos para o setor. De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), o volume de vendas no mês das promoções da Black Friday – tipicamente bom para o comércio – caiu 4,1% ante novembro passado e teve variação apenas 0,6% na comparação com outubro. Para economistas, os resultados são reflexos direto da inflação, dos juros altos e do desemprego.
“A corrosão do poder de compra da população, provocada pelo desemprego elevado, aceleração da inflação e redução do auxílio emergencial pago às famílias, em 2021, contribuíram para vendas menos intensas durante a Black Friday do ano passado, restringindo o desempenho do varejo como um todo no último mês de novembro”, aponta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Na comparação mensal, com outubro, embora a pesquisa do IBGE tenha registrado a variação brevemente positiva (de +0,6%), especialistas destacam que poucos segmentos tiveram crescimento.
“Quando a gente olha por dentro, o varejo ainda mostra uma situação bastante ruim”, disse à reportagem do Valor o economista João Leal. “No varejo restrito, que corresponde a grande parte do varejo, dos oito setores, apenas três apresentaram crescimento, mostrando que principalmente o consumo de bens semiduráveis e duráveis continua muito fragilizado e trazem uma perspectiva ruim para a economia”.
O que sustentou o avanço foram as vendas de supermercados, alimentos e bebidas – com variação de 0,9% na passagem de outubro para novembro. A mudança no “perfil do consumo” a que se referem os economistas é um reflexo da perda de poder de compra da população, que tem empenhado suas rendas e aproveitado as promoções para aquisição de bens de primeira necessidade, como alimentos.
“Vimos praticamente uma mudança no perfil. A data costumava impulsionar muito os setores de bens duráveis e semiduráveis. Com a inflação muito elevada, no ano passado, as famílias priorizaram o consumo básico, especialmente a parte de alimentação, farmacêutica, deixando um pouco de lado bens duráveis como víamos historicamente”, continua Leal.
As vendas de tecidos, vestuário e calçados, por sua vez, recuou -1,9% na comparação mensal e de móveis e eletrodomésticos, -2,3%. “A demanda por estes produtos tende a ser adiada pelas famílias no atual contexto de desemprego e inflação. Isto também ocorre com vestuário e calçados”, analisa o Iedi.
“Quando olhamos as condições de crédito de 2020, havia uma taxa de juros bem mais baixa do que era no ano passado. No último novembro, também já tinha uma perspectiva da curva de juros pior adiante. Ou seja, as empresas, quando dão crédito parcelado, fazem essa conta”, observa. “Inflação muito alta, perspectiva de juros cada vez maiores e mercado de trabalho sendo recomposto com salários médio piores contribuíram para o que aconteceu”, comentou o economista Gustavo Cruz da RB Investimentos, também ao Valor.
No varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, e material de construção, o volume de vendas subiu 0,5% na passagem entre outubro e novembro, já descontados os efeitos sazonais.
O resultado foi influenciado pelas taxas positivas de veículos, motos, partes e peças (0,7%) e material de construção (0,8%). Apesar disso, o avanço não repõe as perdas dos setores nos últimos meses, que registraram queda de 1,8% e 0,4% no caso de automóveis e de 0,8% em setembro e outubro para as vendas de materiais de construção. Com os sucessivos resultados negativos, as vendas de veículos, por exemplo, ainda estão 5,9% abaixo dos níveis pré-pandemia.
Fonte: Hora do Povo
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