Economistas afirmam que inflação deve continuar alta até o fim deste ano
Para se ter uma ideia do cenário atual, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março acumula alta de 11,30% nos últimos 12 meses; confira dicas para driblar a inflação
Rio – A escalada da inflação, que reduz o poder aquisitivo e afeta as famílias, não deve desistir por enquanto. Segundo economistas consultados pelo O DIA , o consumidor precisa preparar um saco, pois a valorização de dois produtos e serviços deve continuar até o final deste ano ou não. Para se ter uma ideia do cenário atual, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março acumula alta de 11,30% nos últimos 12 meses, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) neste sexta feira.
A educadora financeira e promotora do Instituto Soaper, Aline Soaper explica que os preços altos impactam diretamente no bolso das famílias brasileiras, já que a maioria não tem margem para fazer aumentos significativos em dois gastos com itens essenciais.
«O IPCA do mês passado (1,62%) trouxe uma taxa mais alta para o mês de março desde 1994, ou seja, em 28 anos. E isso se reflete diretamente na mesa do brasileiro, já que os preços dos itens básicos seguem subindo. Diante disso, o orçamento precisa ser mais planejado e controlado, evitando gastos além das possibilidades da família», sugere, acrescentando que é importante, neste momento, buscar uma fonte de renda extra para manter a capacidade de compra.
Inflação deve continuar elevada
O professor de economia Lauro Barillari acredita que o aumento dos preços vai continuar até o fim deste ano. «Porque a dinâmica de aumento de juros no Brasil decidida pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), de 9,25% para 11,75% (+27%) desde dezembro passado até março, e a retomada de alguns setores da economia em 2021 ainda não serão suficientes para conter os efeitos da escalada dos preços, iniciada a partir da falta de diversos produtos e serviços no mercado, efeito da pandemia», explica.
Ele reforça que outros fatores também influenciam o aumento dos valores como «o stress da guerra com a Ucrânia e Rússia, países que concentram parte relevante da produção de Petróleo, grãos e cereais no mundo, a crise de oferta de alimentos, no campo brasileiro, pelas condições climáticas desfavoráveis, a valorização da moeda americana, pressionando os preços dos insumos importados e utilizados na indústria nacional; e, ainda, as expectativas das eleições presidenciais no Brasil, que podem elevar a cotação do dólar com a possível saída de investidores do país, de acordo com os diversos cenários das pesquisas», indica Barillari, completando que avanço do dólar encarece ainda mais os insumos no país, pressionando a alta dos preços ao consumidor.
Gilberto Braga, economista e professor da Fundação Dom Cabral, afirma que a inflação não diminui de forma rápida, «porque há um conjunto de preços chamados administrados, que são os valores dos contratos reajustados anualmente. Esses preços não permitem que a inflação caia, pois sempre trazem uma memória dos aumentos passados. São os casos das concessionárias de serviços públicos, como telefone, água e energia, cujas tarifas sobem uma vez por ano, com base na inflação passada», indica.
O que o petróleo tem a ver com a inflação?
A alta do preço do petróleo elevou o valor médio de uma série de itens como o frete, o custo do transporte público e os alimentos. «Esse processo começa em um nicho específico, que tem alto poder de proliferação, como é o caso do petróleo. Ele atinge a geração de energia, o gás e todas as matérias-primas que derivam dele, provocando uma reação em cadeia», aponta Marcelo Anache, economista e professor do curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário IBMR. Segundo Anache, a grande questão da alta em produtos derivados do petróleo está justamente nesse disparo sequencial para outros nichos econômicos. «Enquanto o conflito na Ucrânia persistir, os preços seguirão inflacionados. O petróleo é uma commodity cujas transações são em dólar no mundo inteiro».
O especialista lembra, ainda, que a produção das refinarias brasileiras não é suficiente para abastecer o mercado interno. «Com isso, o país precisa buscar no exterior um óleo que não é produzido aqui. O produtor não cobrará um valor menor do que o custo internacional que ele tem para processar o combustível», ressalta o professor.
A isso, ainda, se somam o trigo, o milho e os fertilizantes, de acordo com o docente. «Os fertilizantes estão entre os principais componentes de custo na produção de commodities. Assim, a maior parte da inflação brasileira é importada. Por uma questão de inércia, a inflação atual vai perdurar até o fim do ano». Anache conta que essa inércia significa dizer que, como no Brasil ainda existem alguns tipos de preço que trabalham indexados a certos índices, sempre que há alterações nesses indexadores, consequentemente, haverá aumento. «É o que chamamos de retroação de preços», explica o especialista.
Como os indicadores mudam, as alterações nesses índices são absorvidas por um determinado nicho de mercado, e alguns reajustes de preço devem seguir, pelo menos, até dezembro, segundo o professor. Ele acrescenta que o mundo inteiro vive um processo inflacionário, com cadeias produtivas sendo impactadas desde o início da pandemia de covid-19. «Muitos setores ainda estão se reorganizando, pois houve uma quebra importante na cadeia produtiva com a crise sanitária. As atividades econômicas voltaram, mas durante a pandemia, não havia oferta. Agora, existe uma demanda acelerada e por isso, o preço sobe. Não se trata de uma inflação de demanda. É uma questão que vem de um custo maior de produção, ou quebra na produção, atingindo inúmeros setores», analisa Anache.
Impacto mais severo
O professor do IBMR avalia, ainda, que as classes menos favorecidas são as mais atingidas diante do aumento dos preços. «A renda média das famílias caiu e a taxa de desemprego é um dos motivos. A renda encolheu como um todo», indica o especialista. Ele acrescenta que a população assalariada não consegue ter margem de manobra para lidar com a inflação, pois depende de um reajuste anual, enquanto que os preços aumentam de acordo com outros cenários econômicos, em velocidade totalmente distinta.
«É uma corrida injusta. Quando há o reajuste médio do salário mínimo, esse cálculo não acompanha a inflação vigente. Quem vive de renda, como donos de negócios de comércio e serviços, por exemplo, consegue estabelecer preços conforme o custo da atividade. Então, se torna possível reposicionar a renda. O que não ocorre com a população assalariada», pondera Anache.
Mas, afinal, quando o cenário da inflação no Brasil deve começar a melhorar? Para o economista Gilberto Braga, não se deve esperar muita melhora neste ano. «Depende do fim da guerra, das eleições gerais de 2022, de quem vai vencer e de quem será o Ministro da Economia e dos planos para a economia», pondera.
Como driblar a alta dos preços
A educadora financeira Aline Soaper aconselha que pesquisar preços é fundamental para superar os efeitos da inflação. Ela recomenda aproveitar os dias da semana em que os supermercados fazem promoções de itens específicos para cobrir a despensa. O especialista nos aconselha a trocar produtos que vão subir muito de preço por itens de menor valor ou novas marcas.
Por fim, Aline destaca a importância de se ter uma boa organização doméstica e um bom controle financeiro. “É indicado fazer um controle semanal, bem como é possível monitorar quando e quanto se gasta, fora do mercado, com combustível, remédios e outras despesas, buscando economizar, não é possível”, aconselha o educador financeiro.
Com informações do O Dia Online
Noti-América/Brasil
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